Promessas e Liderança na Era das Novas Gerações

Você já percebeu como Millennials, Geração Z e Alfa são, ao mesmo tempo, fascinantes e desafiadores no ambiente de trabalho? Costumam ser rotulados como impacientes, frágeis ou até egoístas. Mas será que esses rótulos dizem mais sobre eles ou sobre o mundo que nós, líderes, oferecemos a eles?

Simon Sinek provoca: “Os Millennials são difíceis de lidar no trabalho. Eles são acusados de serem preguiçosos, egocêntricos e impacientes. Mas não é culpa deles.” Essa frase, da famosa entrevista viral no YouTube, é um convite à reflexão. Não estamos diante de gerações defeituosas, mas de gerações moldadas por um contexto: tecnologia imediata, redes sociais e promessas de um futuro brilhante que nem sempre encontra espaço no mundo corporativo.

Se Sinek nos alerta sobre as frustrações dessas gerações, Donald Sull e Charles Spinosa oferecem um antídoto prático: a Gestão Baseada em Promessas. Publicada originalmente na Harvard Business Review, essa abordagem sugere que a verdadeira execução organizacional não nasce de estratégias grandiosas, mas da teia de promessas, explícitas, públicas e voluntárias, que sustentam o cotidiano das equipes.

Entre expectativas e promessas

O choque das novas gerações com o trabalho é, muitas vezes, o choque entre expectativas e realidade. Elas cresceram acreditando que poderiam “mudar o mundo”; e, em certo sentido, podem. Mas no dia a dia encontram tarefas vagas, metas confusas e líderes que falam de propósito sem mostrar onde ele se conecta com a entrega.

É aqui que promessas bem-feitas funcionam como um mapa. Quando um gestor diz:

• “Preciso de uma apresentação” ➡️ cria ansiedade.

• Mas quando promete junto: “Prepare uma apresentação de 10 minutos com os principais resultados financeiros, em gráficos, para segunda-feira” ➡️ cria clareza e confiança.

Pequenas promessas mudam tudo: transformam um pedido solto em um compromisso que pode ser cumprido, medido e celebrado.

As cinco forças das promessas

Sull e Spinosa apontam cinco características centrais de uma promessa eficaz:

1. Pública: visível a todos, criando responsabilidade.

2. Ativa: fruto de negociação, não imposição.

3. Voluntária: assumida por escolha, não por medo.

4. Explícita: sem margem para mal-entendidos.

5. Alinhada à missão: conectada a algo maior que a tarefa em si.

Quando aplicamos esse modelo a Millennials, Gen Z e Alfa, não estamos apenas distribuindo tarefas. Estamos oferecendo um elo de confiança num mundo líquido e acelerado, como já dizia Zygmunt Bauman.

Para além da paciência: construindo resiliência

Muitos líderes acusam essas gerações de impaciência. Mas impaciência não é sentença; é contexto. A gestão baseada em promessas, com seus ciclos de renegociação e feedback, ensina resiliência na prática. Um prazo renegociado não é sinal de fraqueza, mas de maturidade. É assim que se aprende a lidar com o longo prazo.

Como lembra Peter Drucker: “Planos só se tornam reais quando se transformam em trabalho.” A promessa é justamente essa ponte entre visão e execução.

O papel do líder

Cabe ao líder ser o primeiro a honrar promessas. Não como um fiscal de prazos, mas como alguém que demonstra, pelo exemplo, que compromissos têm peso. Um líder que promete e cumpre cria credibilidade. Um líder que promete e renegocia com transparência ensina maturidade.

Mais do que gestores de tarefas, precisamos ser curadores de confiança. E confiança nasce no encontro entre palavra e ação.

Conclusão

Simon Sinek nos lembra que essas gerações não querem apenas empregos; querem impacto. Sull e Spinosa nos mostram que impacto só acontece quando promessas são claras e cumpridas. Entre essas duas visões, está o papel do líder contemporâneo: transformar expectativas difusas em compromissos tangíveis, capazes de sustentar propósito e execução.

Liderar com promessas é liderar com integridade. É acender uma fogueira no meio do caminho, para que os que vêm depois encontrem luz e calor.

E você, tem cumprido as promessas que faz

ou apenas distribuído pedidos?